The 40th Anniversary.

- Mentira? Não acredito que Robert Pattinson está cotado para ser o novo Batman! Prefiro mil vezes George Clooney e os bat-mamilos dele.

Comentava consigo mesmo ao ver uma notícia num site de cinema, por que sim, Harry dificilmente ficava em silêncio até sozinho.

Graças a Lady Gaga, não ouviu Julian chamando no hall de entrada. Disco Heaven começou a ser cantada no Som, uma das suas favoritas. De repente o friozinho de ter comido sorvete lhe fez ter vontades de ir ao banheiro. Colocou o notebook de lado, levantou-se da cama e foi até a porta – dançando e fazendo um maravilhoso lip sync, no percurso.
Mas quando abriu a porta, uma claridade denunciou que luzes estavam acesas na casa.

“Essas porcarias só acendem com presença física” – ele começou a fazer vários cálculos – “ Eu não estou lá. Julian não está em casa... Por que tem um cômodo aceso?”

Por que, pensou ele, por que eu vejo filmes de terror?.
Passo a passo,  foi atravessando o corredor. Como deixou a porta do quarto aberta, a música havia enchido a casa, e não lhe permitia escutar nada – no caso, ouvir os ruídos de ser um invasor. Quando chegou na escada, viu que uma luz lá de baixo estava acesa. Então a desceu, mantendo o cuidado.

Por onde passava, as luzes acendiam, revelando sua localização. Parou num cômodo intermediário, que lhe dava visão para alguns cômodos, como a cozinha e o hall de entrada – que era de onde vinha a luz. Harry apoiou o braço na parede, o coração a mil. Fixou seus olhos na porta do hall de entrada...

E o invasor apareceu na porta.

- JESUS, MARIA E JOSÉ!

Nunca tinha visto assombração tão nítida quanto aquela.
Mas quando o susto passou, outro susto: seu coração se aqueceu, o medo e tudo mais passaram.
O intruso era Julian.
Num surto de histeria, Harry saiu correndo e gritando na direção do namorado. O problema é que ele não parou quando chegou perto, então por um instante, pareceu que ia passar correndo por cima dele; mas não. O mais velho o pegou num abraço violento, chegando a levantar o mais jovem do chão.

- MI TESORO! VOCÊ TÁ EM CASAA!

Ficou abraçadinho com Julian, apenas dando gemidos de alegria como um cachorrinho feliz em rever seu humano favorito, enquanto o apertava e esfregava suas mãos por toda a extensão das costas dele. Ele estava tão cheiroso! Ele era cheiroso.

- Que delíííííícia, que bom que você voltou! Que gostoso, te abraçar! Te apertar! O que aconteceu, você não tinha um ensaio hoje? Houve algum problema no trabalho? Te expulsaram de lá? Ou você que resolveu não trabalhar mais e voltou para me ver?

Foi aí que lembrou que Julian nunca deixava o trabalho. Ele era muito profissional. Ou simplesmente compreendia que era dali que vinha o seu ganha-pão – mas Harry não absorvia isso de jeito nenhum.
Quando lembrou-se que Julian nunca abandonava o trabalho, Harry o segurou pelos ombros e se afastou repentina e rapidamente, fixando o olhar julgador no rosto delicado do namorado.

- Peraí, o que foi que realmente aconteceu? Você não largaria um serviço só pra ficar do meu lado.

Tirou as mãos de Julian e cruzou os braços, agora julgando-o mais do que nunca.

- Hmmmm, que inocente da minha parte achar que você largaria as câmeras por mim. O jeito é eu virar fotógrafo, por que né. Elas tem amam muito, e é recíproco...

- Nem uma coisa e nem outra.

Respondia com a voz um pouco abafada e sinceramente nem sequer queria falar a respeito de trabalho, porém, Harry era quem praticamente insistia no assunto – e daquele jeito dramático que era típico. Julian suspirou e desfez o contato ao ser afastado, trocando olhares com o parceiro e esperando que ele terminasse de se lamentar. Quem visse de fora, poderia dizer que o modelo não se importava nem um pouco com aquele relacionamento, mas as coisas não funcionavam assim... Na verdade, a culpa era de seu trabalho e infelizmente não tinha o poder de fazer tudo conforme a própria vontade.

- O ensaio que seria hoje foi cancelado em cima da hora e a agência nos liberou. Sabe que não era aqui perto, então tentei chegar o mais rápido possível para ao menos aproveitarmos algumas horinhas do seu aniversário. – Confessava sem dar voltas, sendo o mais direto possível. – Me desculpe por chegar tão tarde. Tive alguns imprevistos no meio do caminho.

Não iria falar – por enquanto – que todo o atraso fora culpa de sua indecisão sobre o presente. Deixaria para entregar a aliança quando o clima estive propício e o maior parasse de reclamar. De fato, era acostumado a tudo aquilo e algumas vezes até brigavam por isso, mas não o faria... Pelo menos não naquele dia: Era uma data especial, além de também estarem praticamente às vésperas do Natal. Jamais iria discutir por tão pouco e era por isso que mantinha a típica calma ao falar com ele.

- Você não precisa virar um fotógrafo, visto que pode me ver e admirar quando quiser e não apenas através de câmeras. – Sorria e então levava uma das mãos ao rosto de expressões emburradas, fazendo um suave carinho como se quisesse decora-lo. – Além do mais, a profissão que tem lhe cai bem e foi assim que me apaixonei.

Não forçava nenhuma proximidade, mas também não se afastava além da distância colocada pelo professor. Admirava-o do seu jeito e mesmo com todos os altos e baixos que já haviam encarado naqueles cinco anos de relacionamento, Julian tinha para si que o sentimento ainda continuava ali, tão vívido como na época da faculdade. Amava-o de verdade e era com ele que desejava ficar até quando pudesse.

- Não quero brigar, Harry. Não hoje ou menos ainda agora, por favor. – Falava de um jeito manso, pegando então a mochila e em seguida segurando a mão dele para que fossem até um dos quartos, ainda no andar inferior. Esta tinha isolamento acústico e por isso fora escolhida pelo rapaz, afinal, detestava o gosto musical dele. Livrava-se do casaco que usava e sentava-se na cama, relaxando um pouco. – Como foram os seus dias sem mim? A faculdade já o liberou para as férias de fim de ano? Porque eu estou de folga até o Réveillon.

-...


Harry tinha um coração muito mole. Foi só Julian fazer aquela cara de pet abandonado, dizer que tinha feito de tudo para chegar mais rápido o possível a fim de aproveitar um pouco do aniversário, que ele já sentia-se derreter por dentro. Derretido pelo calor que só Julian podia fazer surgir dentro do seu coração.
Quando teve seu rosto tocado pelo jovem, não conseguiu conter o sorrisinho que surgiu em sua face, assim como a espontânea reação de entortar a cabeça para o lado em que a mão de Julian estava, como se para encaixar melhor o seu rosto na palma da mão pálida de dedos compridos. Parecia até um cachorrinho carente. Seus olhinhos foram a última coisa a mudar em seu rosto, de emburrado a feliz.
Julian terminava por ganhá-lo por completo quando citava que Harry não precisava virar um fotógrafo, e também ao citar quando havia se apaixonado pelo mais velho.

- Se você está tentando me ganhar...


Fez um suspense, para enfim abrir um sorriso bobo.

-  Bem, você conseguiu! Está ok, nada de brigas por hoje.


Piscou para Julian, como se fechando um acordo.
De bom agrado, deixou-se levar pelo rapaz, que segurou sua mão e o levou para um dos quartos, fechando o quarto e mantendo a Lady Gaga lá fora. O que era uma pena para Harry, pois sempre gostava de dar umas amassadas no namorado ao som de divas – Pop era uma ótima trilha sonora de fundo para uns amassos, só Julian que não via. Que tipo de viado é esse, que não gosta de Lady Gaga, e nem de Beyoncé?, Harry um dia perguntou pra ele. Depois da resposta de Julian, Harry concluiu: Você é um viado cult? Que chique! Mas não é erótico transar ao som de Vivaldi.

Sentou-se ao lado dele, fazendo carinho na sua coxa.

- Como foram os meus dias sem você? Irritadiços, tristes e com uma pitada extra-grande de tédio. Como sempre são quando você está longe de mim por mais de um dia. Quanto a faculdade, estamos em fase de conclusão, então posso dizer que estou praticamente liberado.


Ao ouvir a notícia de que estariam livres até o Réveillon, Harry pulou na cama, sentando sobre uma das pernas e ficando mais de frente para o jovem.

- ME DIZ que a gente vai viajar! Vamos, Julian? Passar as férias num hotel LGBT – por que aí vamos poder ficar juntos sem preconceito alheio, e ainda por cima na beira de alguma praia paradisíaca...


O mais velho parou de expressar seus desejos, meditando se estava delirando demais. Dobrou o dedo indicador e mordeu a junta do dedo, pensando seriamente nas idéias que teve.
Repentino, levou as mãos aos ombros do modelo, e o sacudiu brevemente.

- Vaaaaamos, vai... Para um lugar onde ninguém nos conheça, um lugar lindo, para espairecer e esquecer todos os nossos problemas. – por fim parou, e ficou alguns segundos olhando Julian – Que tal?

- Viajar? Não parece ser uma má ideia, estava pensando o mesmo. – Mantinha as expressões tranquilas de sempre, porém, sequer fazia ideia de para onde podiam ir. Graças a profissão, conhecia muitos lugares, então deixaria a escolhia a cargo do mais velho, torcendo para que ele optasse por algum lugar tranquilo. – O que tem em mente? Uma cidade tranquila para essa época do ano? Confesso que iria adorar.


Comentava como quem não queria nada, acreditando que talvez ele entendesse o que queria dizer. Porém, toda sua expectativa praticamente morria com o que vinha a seguir: Hotel LGBT e praia. Mesmo longe dos holofotes e da fama que o trabalho trazia, Julian era alguém que gostava de manter a vida privada praticamente no anonimato e se fosse visto em lugares assim, mais ainda acompanhado, seria bem problemático.
Levava uma das mãos aos cabelos naturalmente bagunçados e deixava-os assim então mais desalinhados, como se estivesse pensando em que palavras escolher a fim de explicar tal detalhe ao parceiro. Além de que, não era o tipo de programa que o atraía muito também. Gostava do inverno e praia para si só valia a pena para passear à noite, aproveitando a maresia. Respirava fundo e então se recostava a cabeceira, agora com ambas as pernas na cama, mantendo o olhar nele.

- Amor, será que não podemos ir a algum lugar calmo? Hokkaido tem um inverno maravilhoso nessa época do ano e é uma ótima cidade para uma viagem a dois, hm? Além da possibilidade quase negativa de encontrarmos algum conhecido.


Pois sim, usaria aqueles dias de descanso para "fugir" de praticamente tudo e todos. Moravam num país famoso, numa cidade extremamente movimentada, então realmente almejava por tranquilidade. De qualquer forma, ainda teriam tempo para decidir em conjunto – visto que o professor não estava liberado da faculdade – e o assunto poderia continuar depois. Provavelmente já deveria ser quase dez horas da noite e o modelo pretendia presentear o parceiro antes que o aniversário dele acabasse.
Virava-se parcialmente a fim de alcançar a mochila no chão e dali tirar uma sacola preta com adornos em prateado, de uma joalheria conhecida do centro da cidade. Retomava a postura e a abria, pegando uma caixinha retangular de veludo vermelho e então sinalizando para que o amado se aproximasse, deixando-a então nas mãos dele. Dentro dela, haveria as alianças de noivado, escolhidas a dedos e ambas com a mesma gravação interna, junto a data do 40º aniversário do mais velho.

- Feliz aniversário. – Sussurrava ao se inclinar para frente e roubar um selinho dele. – Espero que goste... E aceite dar mais esse passo em nossa relação, meu noivo.

- Por outro lado, eu sempre achei o frio romântico... – começava a ceder: Harry nunca resistia muito a Julian. Ainda mais depois de ser chamado tão carinhosamente de amor. Sempre gostou quando Julian demonstrava o afeto que sentia – E além de aproveitar os pontos turísticos amorosos, nós podemos nos divertir com os desportos de inverno.


Chegando a conclusão e entrando em concordância com o amado, Harry deu um tapa na perna dele.

- Está certo, Hokkaido! Já estou ansioso para fazer esqui.


Do nada Julian se virava para a mochila, e até então Harry não tinha suspeita de nada. Aliás, ele estava esperando para ver se Julian havia ganhado alguma roupa ou acessório, algum tipo de brinde – ou melhor, se ia presenteá-lo com alguma coisa que havia comprado – porém nunca esperou tanto quanto estava por vir. Quando viu a sacola, ficou embasbacado. Reconheceu a loja.

- Mas o que você tá fazendo com uma sacola da Jewel’s Ace...


E então, de repente seu coração apertou fortemente, como se tivesse visto uma assombração, ao ver o namorado tirar aquela caixinha avermelhada de dentro da sacola. Olhou na face de Julian, procurando uma explicação para aquilo – pois não queria ter altas expectativas: Julian era muito discreto para noivar – e e encontrou uma faceta tranqüila; os olhos gentis e expressivos estavam cheios de carinho. O mais novo sentou-se perto de si e lhe entregou a caixinha, que Harry segurou com tanta leveza, como se suas mãos fossem feitas de nuvens.
As palavras e o beijo vieram. Harry estava tão estupefato que apenas fechou os olhos, recebendo aquele delicado selinho – que pareceu eterno. O beijo não tinha sido longo o bastante para que Julian sentisse Harry tremendo, mas ele acabaria vendo.

Pegou os óculos que estavam pendurados na gola da camisa e colocou no rosto, agora agindo mais rápido; estava ansioso para confirmar tudo com seus olhos, colocando-os na prova irrefutável que seria o ponto final da frase do namorado. Abriu a caixinha correndo, e então, sentiu-se flutuando, ao lentamente observar a aliança. Fez questão de colacá-la sobre a luz – num primeiro momento, não tirando ela da caixinha, de tão impactado – e observar a prata e ouro, e os lindos detalhes de batimentos cardíacos. Por falar em batimentos cardíacos, os seus estavam a mil por hora, e Harry também estava suando frio.

- Elas são... Tão lindas! OMG!


Estava se sentindo estranho. Precisava lavar o rosto, sentia essa necessidade. E o rostinho sorridente do Julian em expectativa com a reação que teria, de repente parecia estar exercendo pressão demais. Levantou uma das mãos vagarosamente, e ela estava tremendo muito, como se estivesse diante de um dinossauro terrível. Com ela tirou os óculos, que foram colocados na cama, do outro lado de Harry.
Noivos.
Seu sonho de princesa estava se realizando; um sonho que pensou que jamais aconteceria. Desde quando se apaixonara por Julian, conforme o relacionamento se desenvolvia ia criando mais expectativas e sonhava cada vez mais. As mais extremas eram noivar, casar, e adotar uma criança.
E uma delas estava se concretizando.
Tinha que lavar o rosto, sentia que... Mirando a porta com muita urgência, ele entregou a caixinha nas mãos de Julian novamente – com medo de derrubá-la – e tentou ficar de pé. Conseguiu. Ficou de pé, a cama atrás de si e a porta à frente. Porém, não tinha forças para mover-se. Quando viu que não conseguiria, confessou:

- Julian, me ajuda. Acho...


Ele caiu na cama, perdendo a consciência.
Acho que vou desmaiar, foi o que tentou dizer.

- Ei, Har...  – Largava o presente de lado e conseguia evitar que o mais velho caísse por completo ao chão, segurando-o por baixo dos braços. – ...Harry?!


E como não ficar apreensivo diante da falta de reações ou respostas? Julian então o puxava para a cama, deixando-o deitado de maneira confortável e tentando entender o que realmente tinha acontecido num espaço de tempo tão curto. Ele parecia ter gostado tanto do presente, não é? Então, qual fora o motivo do desmaio? Era tudo culpa da emoção? Caso sim, desde quando o professor era tão sensível a tal ponto?

" Tsc, o que eu acabei fazendo? "


Era impossível não sentir uma pontinha de culpa pela reação dele, suspirando fundo em lamento. Acariciava os cabelos curtos do maior e depositava um suave beijo à testa dele, sem parar de olha-lo, ansiando pelo momento em que acordasse. Aparentemente, Harry estava bem e o modelo acreditava que logo acabaria despertando de um jeito ou outro.
O olhar ameno se mantinha o tempo inteiro na figura apagada e apesar de parecer bem calmo, verdade era que se sentia um tanto nervoso. E a maior prova era quando notava a ponta de os dedos um pouco úmidas junto dos fios escuros que também pareciam ligeiramente molhados, quase de forma imperceptível. Aquilo SEMPRE acontecia toda vez que saía de sua zona de conforto ou se mostrava inquieto com algo. Não era como se não tivesse nenhum controle de sua mutação, mas tudo o que envolvia Harry acabava por afeta-lo de forma distinta quanto a qualquer outro assunto.

- Ah, droga...!

- Julian... O que foi que você fez...? Você é tão novo, mas mesmo assim, está assumindo um compromisso tão sério... Nunca pensei que eu seria tão amado assim um dia. Eu nunca pensei... Que as minhas expectativas, meus sonhos se realizariam!


E então, precisando desesperadamente daquilo, segurou o rosto do seu amado noivo e o beijou; um beijo tenro, em que os lábios se encontraram e trocaram calores apaixonados.
Ao mesmo tempo, das suas pálpebras fechadas nasceram lágrimas, que deslizaram pelas suas bochechas, descendo até o maxilar e caindo após ele.

Demorou-se no beijo. E quando se afastou, já o fez secando o seu rosto: não gostava que Julian lhe visse chorando. Harry sempre foi a energia, a alegria da relação; aquela regra não podia ser quebrada. Certo?
Tentou se recompor.

- Você não faz idéia do quanto esse momento é importante pra mim. Eu sempre sonhei... Eu sempre sonhei com o momento em que deixaríamos de se tornar meros namorados para se tornar algo maior, algo mais sólido e inquebrável. Ainda mais unidos. – admitia, dando voz aos sentimentos que Julian nunca havia conhecido. Sempre guardou isso para si, pois achou que o outro não fosse retribuir, por ser muito jovem. Enquanto isso, passava os dedos pelos cabelos do noivo, sentindo-os molhados. Chegou a dar um sorrisinho quando percebeu que ele ficara nervoso com o desmaio. – Porém sempre tive medo de falar isso para você. Medo de estar tendo expectativas maduras demais por ser mais velho, expectativas que você, por ser mais novo, não teria. Mas cá estou eu, surpreendido pelo seu ato. Não se preocupe. Essas lágrimas são de alegria.


De repente, atento com algo, começou a procurar ao redor de si e ao redor de Julian alguma coisa, até achar a caixinha. A tomou novamente nas mãos, e a abriu. Pegou uma das alianças e levou bem perto do rosto – por que não enxergava direito de perto sem óculos – notando o que tinha escrito dentro dela. Seus olhos se arregalaram. Desta vez não conseguiu conter-se. Seu rosto foi tomado por uma alegria compulsiva, e ele chorava. Arriscou olhar para o noivo, mesmo odiando ver os outros verem-no chorando. Depois desviou o olhar, chorando ainda mais.

- Me permite, meu noivinho lindo? – ele não conseguia nem olhar no rosto de Julian: olhava para a mão dele. A pegou, trazendo-a para si e encaixando no dedo anelar a aliança. Involuntariamente, deu um sorriso em meio a choradeira – Ela ficou linda em você, mi tesoro.


Após isso, entregou a aliança restante na mão do amado, para que ele fizesse as honras.

- ...


Retribuía com a mesma intensidade, mordiscando de levinho o lábio inferior e novamente sorria, como se dissesse que tudo estava bem agora. Tinha muito a falar com ele, mas primeiro deixaria que o homem esbravejasse ou reagisse da maneia que quisesse. Conhecia-o há muito tempo, mas ainda assim, não esperava tamanho choque... O que apenas reforçava a ideia de que no fundo, ainda havia muito para um descobrir a respeito do outro.
A confissão seguinte deixava o mais jovem sem palavras, literalmente. Toda aquela "confusão" era por conta da diferença de idade? Julian balançou a cabeça em negativo como se reprovasse tal atitude, dando uma risadinha e então encarava o parceiro, sendo impossível não enxerga-lo quase como uma criança indefesa naquele estado.

- Você é tão ingênuo às vezes. – Afirmava numa calma incrível, devolvendo o carinho que recebia no rosto e ajudando então a enxugar as teimosas lágrimas. – Eu tinha dezenove anos quando o conheci, éramos aluno e professor. Havia tudo e mais um pouco para dar errado, mas eu persisti o tempo inteiro, lembra-se? E nossa idade nunca foi nenhum empecilho. Se não assumi um passo como esse antes, foi apenas por não ser o momento certo.


Sabia que ele entenderia o seu ponto, mas ainda assim, mantinha o mesmo tom. Aquela altura, as alianças haviam virado um assunto secundário, mas parecia ser o único a pensar de tal forma... Visto que notava quando o mais velho começava a caçar a caixinha sobre a cama. E não demorava muito para que as lágrimas voltassem, deixando o rapaz em alerta – afinal, não sabia se ele poderia acabar desmaiando de novo. Quando sentia o anel ser colocado no dedo de maneira tão amável, pegava a que havia sobrado e fazia o mesmo, beijando o objeto logo após coloca-lo no agora noivo.

- É apenas um símbolo físico, hm? – Obrigava-o então a encara-lo diretamente, não se importando com a face chorosa, afinal, gostava de conhecer todos os lados daquele cujo dividia uma vida há cinco anos. – Meu amor por você é mais forte que isso. E nunca se esqueça de que estarei sempre ao seu lado, mi tesoro.

- Você promete? De todo o seu coração?


Ele segurou forte a mão de Julian que tinha a aliança e levou até o rosto, colocando-a contra sua boca. Porém não a beijou, pois não conseguiu. Não controlava seus lábios, que estavam retorcidos pelas emoções.
Chorou compulsivamente
E quando conseguiu, levantou o olhar para olhá-lo no rosto. Naquele rostinho tão calmo.

- Meu amor por você não pode ser medido. Não sei se você sabe, mas o amor que eu sinto por você é múltiplas vezes maior do que aquela montanha de dólar que o Coringa queimou em Batman: O Cavalheiro das Trevas. Então se eu pudesse trocar a nossa relação por uma quantidade equivalente de dinheiro, eu não trocaria. Ainda que eu ficasse pobre...


Finalmente beijou a mão de Julian, bem em cima da aliança, como o mais novo fez antes consigo.

- Com você ao meu lado, eu sou o cara mais rico do mundo.

- Vamos, pare de chorar. – Sussurrava como se contasse um segredo, sem deixar de olha-lo. – Se eu prometo? Claro que sim, afinal, não seria tolo em torna-lo o meu noivo para desistir em seguida.


Brincava com o mais velho e dava uma risadinha ao mesmo tempo em que enxugava as teimosas lágrimas que marcavam o rosto dele. Novamente arriscava dar um beijo após tudo o que ele dizia, contentando-se em concordar com tudo e preferir não estender o assunto. Aquele deveria ser um dia de apenas comemorações e desde quando tinha chegado, havia visto o parceiro chorar mais do que sorrir – e não gostava nem um pouco.
Lamentava ser tão tarde e não poder se arriscar em fazer algo para comemorarem de maneira clássica, prometendo a si mesmo que pelo menos ficaria responsável pelo almoço do dia seguinte. De fato, seria bem mais prático simplesmente chama-lo para sair e assim comerem fora, mas também queria descansar um pouco em casa e preferia infinitamente fazer algo a dois do que se obrigar a socializar – algo que a profissão já exigia com frequência.

- Amanhã iremos comemorar o seu aniversário direito, hm? Com direito a café da manhã na cama, almoço e bolo... Do jeito que tanto gosta.


Piscava cúmplice ao maior, sabendo o quanto ele adorava ser mimado assim de vez em quando. Não costumava fazê-lo apenas para que não ficasse mal-acostumado, mas quando ocorria, sempre acabava por fazer as vontades de Harry... E não seria diferente agora. Até porque, a data em si pedia por uma comemoração realmente especial.
Com isso, afastava-se apenas o suficiente do noivo e aos poucos livrava-se das vestes aaé restar apenas a cueca box – jogando pelo chão mesmo – para então trocar olhares significativos com ele. Ainda era dia dezenove, não? Então, por que não começar as comemorações – além do presente – desde agora? Oras, estavam longe um do outro há bastante tempo e seria mentira dizer que não sentia falta de tê-lo bem perto.

- O que acha de começarmos o seu aniversário ainda essa noite? – Instigava-o de propósito, com a certeza de que o parceiro não negaria fogo. – Estou com saudades. E quero te dar a certeza que tanto precisa e do quanto também te amo.

- Olha o perigo! Vai me mimar é? Gosto assim.


E já ficava claro que o mais velho tinha se recuperado, retornando a compostura alegre e brincalhona de sempre. Julian era extremamente zeloso com o que fazia, o que podia explicar o sucesso em seu trabalho – Harry sabia bem disso. E não era apenas na área profissional que Julian realizava façanhas graças a sua dedicação e capricho, em todas as áreas o modelo era assim – inclusive, e principalmente na amorosa. Ou seja: o dia seguinte certamente ia ser incrível.

Harry realmente não estava pensando nada malicioso, quando Julian se afastou e começou a despir-se, ficando ao final somente de cueca. Surpreso, o professor percebia que não seria apenas o dia seguinte que seria incrível, mas que o dia atual ainda tinha salvação.

- Bicha safada, pulou logo pra etapa de ficar peladão! Deixa eu dar um jeito nisso...


O puxou para mais um beijo, e deixou seu corpo cair para trás, trazendo consigo o modelo, para que ficassem deitados sobre a cama.

Quando indagado sobre começar o aniversário naquela noite, Harry cessou o beijo intenso para dedicar aos lábios do amado vários pequenos beijinhos. E entre eles, ia falando.

- Eu acho ótimo. E concordo, você vai me dar a certeza que tanto quero, seu amor, e muito mais.


Foi tirando a blusa também, e entre amassos, o calor trocado por eles ia crescendo. A saudade já estava longe da casa daqueles dois, pois Harry sentia que nada mais os separaria – sempre sentia-se assim, quando ambos estavam juntos, numa intimidade própria, especial e querida. O ato carnal era apenas uma etapa do amor deles. Porém, era uma etapa muito bem vinda e indispensável. Julian trazia consigo muitas sensações deliciosas: o seu gosto era agradável, o seu cheiro era gostoso; sentir sua pele era delicioso. Podia fazer um poema sobre o seu estimado noivo, e teria muitas qualidades maravilhosas para citar.

Seu aniversário podia ter começado ruim, e as expectativas para ele foram péssimas. Mas como um anjo, Julian apareceu na última hora para salvá-lo e melhor, ainda extendê-lo, como um bônus.
O dia dezenove terminaria. Porém aquele era só o começo de mais uma fase na vida daqueles dois.

Seu quadragésimo aniversário seria perfeito, e tudo por que ganhou o melhor presente de todos:
Julian.